10 setembro 2005

Chico Xavier

CHICO XAVIER
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Francisco Cândido Xavier, mais conhecido por Chico Xavier, considerado o médium do século e o maior psicógrafo de todos os tempos, nasceu em Pedro Leopoldo, pequena cidade do estado de Minas Gerais, Brasil, no dia 2 de Abril de 1910.

Filho de um operário pobre e inculto, João Cândido Xavier, e de uma lavadeira chamada Maria João de Deus, falecida em 1915, quando o filhinho contava apenas com 5 anos de idade. Na altura tinha mais 8 irmãos, tendo todos sido distribuídos por vários familiares e pessoas amigas. Como órfão de mãe em tenra idade, sofreu muito em casa de pessoas de precária sensibilidade.

Aos nove anos seu pai, já casado novamente, empregou-o como aprendiz numa indústria de fiação e tecelagem. De manhã, até às 11 horas, freqüentava a escola primária pública, depois trabalhava na fábrica até às 2 horas da madrugada. Aprendeu mal a ler e a escrever. Quando concluiu o pequeno curso da escola pública empregou-se como caixeiro numa loja e mais tarde como ajudante de cozinha e café.

Em 1933 o Dr. Rômulo Joviano, administrado da Fazenda Modelo do Ministério da Agricultura, em Pedro Leopoldo, deu ao Jovem Xavier uma modesta função na Fazenda e lá se tornou um pequeno funcionário público em 1935, tendo trabalhado consecutivamente até finais dos anos cinqüenta, altura em que foi aposentado por invalidez (doença incurável nos olhos), com a categoria de escrevente datilógrafo . Não podemos deixar de registrar, sob pena de cometermos grave omissão, que durante as décadas que esteve ao serviço do Ministério da Agricultura, jamais -- não obstante a sua precária saúde e trabalho doutrinário, fora das horas de serviço -- deu uma única falta ou gozou qualquer tipo de licença, conforme documentos facultados pelo M. A. Em finais da mesma década de cinqüenta, vai residir em Uberaba - MG, por motivos de saúde e a conselho médico, onde permanece até hoje e apenas com a sua magra reforma (aposentadoria).

As suas faculdades mediúnicas são extraordinárias, Sua mediunidade (capacidade natural de ser intermediário entre o plano material e o plano espiritual) manifestou-se, quando tinha 4 anos de idade, pela clarividência e clariaudiência, pois via e ouvia os Espíritos e conversava com eles sem a mínima suspeita de que não fossem homens normais do nosso mundo. Já como jovem e depois como adulto, muitas vezes não diferencia de imediato os homens dos Espíritos. Aos 5 anos, já órfão de mãe, esta se manifestou várias vezes junto dele encorajando-o e dizendo-lhe que não poderia ir para casa porque estava em tratamento, mas que enviaria um bom anjo que juntaria novamente a família. Esse bom anjo foi a D. Cidália, a segunda esposa de João Xavier, que para casar com o seu pai fez questão de reunir todos os filhos do primeiro casamento e lhe daria depois mais cinco irmãos.

Quando tinha 17 anos, fundou-se o grupo espírita Luiz Gonzaga , onde rapidamente desenvolveu a psicografia, isto é, a faculdade de escrever mensagens dos Espíritos. Época em que se desligaria da Igreja Católica onde deu os primeiros passos na espiritualidade, mas onde não encontrava explicação para os fenômenos que se passavam com ele, designadamente a perseguição de espíritos inferiores de que era alvo. O padre que o ouvia nas confissões foi um conselheiro, um verdadeiro pai e não o dissuadiu do caminho que iniciou no Espiritismo, mas abençoou-o e nunca deixou de ser seu amigo.

No centro espírita começou a psicografar poemas notáveis de famosos poetas mortos, num nível literário tão elevado que os próprios companheiros do grupo não conseguiam atingir integralmente o seu conteúdo. Muitos desses poetas eram totalmente desconhecidos do meio, nomeadamente alguns portugueses: António Nobre, Antero de Quental, Guerra Junqueira e João de Deus. A 9 de Julho de 1932, seria publicada a célebre PARNASO DE ALÉM-TÚMULO, a sua primeira obra psicografada que iriam abalar os meios intelectuais do Brasil e tornar conhecida a pacata Pedro Leopoldo.

O estilo dos 56 poetas mortos, entre os quais vários portugueses, era precisamente idêntico ao estilo dos mesmos enquanto vivos, informavam os literatos das academias e universidades dos grandes centros culturais do Brasil, embora não soubessem explicar o fenômeno. Seria o início da sua imponente obra mediúnica que hoje já ultrapassa os 350 livros.

Bastava apenas um desses livros para constituir um roteiro seguro para o homem na Terra rumo à sua alforria, à sua felicidade. Seus ensinamentos revivem plenamente o Evangelho de Jesus e as lições do Consolador que Kardec -- o discípulo fiel de Jesus -- nos legou com tanto sacrifício e renúncia.

Mais de mil entidades espirituais nos deram informações através das suas abençoadas mãos, provando à saciedade a imortalidade do Espírito e a sua comunicabilidade com os homens. Mas falar de Chico Xavier é falar de EMMANUEL que indelevelmente estará ligado à sua missão. Esse venerando Espírito é o seu protetor espiritual e manifestou-se-lhe pela primeira vez de forma ostensiva em 1931, acompanhado-o desde então até hoje. A respeito desse Benfeitor espiritual nos diz o próprio médium: Lembro-me de que num dos primeiros contactos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e disse mais que, se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo.

Emmanuel propõe ainda ao jovem Xavier mais três condições para com ele trabalhar: 1ª condição, DISCIPLINA 2ª condição, DISCIPLINA, 3ª condição, DISCIPLINA.

Entre as muitas dezenas de obras mediúnicas de Emmanuel, destacamos os cinco documentos históricos, retirados dos arquivos do plano espiritual, que constituem autênticas obras primas de literatura, e que nos mostram o nascimento do cristianismo e a sua paulatina adulteração logo nos primeiros séculos da era. São os romances mediúnicos baseados em fatos verídicos: HÁ 2000 ANOS... (a autobiografia de Emmanuel, a história do orgulhoso senador romano Publico Lentulus), 50 ANOS DEPOIS, AVE, CRISTO, RENÚNCIA e PAULO E ESTEVÃO (a história de um coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante). Esta última obra, de 553 paginas, por si só justificaria a missão mediúnica de Chico Xavier, segundo o erudito J. Herculano Pires. Em 1943 começara a utilizar a mediunidade do abnegado médium uma nova entidade espiritual que assinará as suas mensagens com o nome André Luiz.(...)

André Luiz é o pseudônimo utilizado por um espírito que foi médico e cientista na sua última existência e que desencarnou numa clínica do Rio de Janeiro pelo início da década de trinta. É considerado o verdadeiro repórter de além-túmulo. Relata-nos numa séria de 11 livros a experiência do seu pensamento, as dificuldades iniciais, o reencontro com familiares e conhecidos que o precederam na partida para o plano espiritual a observação e as expedições de estudo junto de Espíritos de elevada evolução. Esses relatos começam com o já célebre, livro NOSSO LAR (nome duma cidade do plano espiritual), hoje traduzido em vários idiomas, entre eles o Japonês e o Esperanto e que já vai na 40ª edição em Português, com 800.000 exemplares editados até hoje. Obra que também iriam causar e ainda causa uma certa polemica. Nessa série de reportagens a alma humana é profundamente escalpelizada, e onde se confirma na prática os ensinamentos que Jesus nos legou há dois milênios atrás e que Kardec relembra e amplia tão bem sob orientação do Espírito de Verdade. Um dia, no futuro, os médicos, os psicólogos, os sociólogos, etc., ficarão admirados pela sabedoria neles contida, que já no século XX se encontrava no Planeta, apontando diretrizes segura para a felicidade e paz entre os homens. A obra monumental de Chico Xavier que se considera, segundo suas próprias palavras: um servidor humilde -- humilde no sentido da desvalia pessoal , jamais serviu para beneficiar materialmente a sua pessoa. Todos os direitos autorais foram cedidos graciosamente a instituições espíritas, nomeadamente à Federação Espírita Brasileira, e a instituições de solidariedade social. Quando as autoridades públicas lhe concedem títulos de cidadania (mais de cem já lhe foram concedidos) diz que o mérito não é para ela, mas para os Espíritos e sobretudo para a Doutrina Espírita que revive os ensinamentos de Jesus na sua plenitude e que ele não passa de um poste obscuro para a colocação do aviso de que a Doutrina Espírita foi premiada com essas considerações públicas .

Há que registrar também que várias centenas de instituições de solidariedade social forma criadas e inspiradas no seu exemplo e obra: orfanatos, escolas para os pobres, lares de deficientes, sopas dos pobres, campanhas do quilo, ambulatórios médicos, alfabetização de adultos, bibliotecas, etc., etc. Antes de encerrarmos estas notas gostaríamos de registrar ainda o seu ponto de vista em relação às outras doutrinas, filosofias e ideologias, aliás que são o do próprio Espiritismo, mas passemos-lhe novamente a palavra: Nosso amigo espiritual, Emmanuel, nos aconselha a respeitar crenças, preconceitos, pontos de vista e normas de quaisquer criaturas que não pensem como nós, mas advertê-nos que temos deveres intransferíveis para com a Doutrina Espírita e que precisamos guardar-lhe a limpidez e a simplicidade com dedicação sem intransigências e zelo sem fanatismo .

Estes são alguns dos traços biográficos desse abnegado bem-feitor que renunciou a tudo para que o mundo seja um pouco melhor e que dá pelo nome simples de Chico Xavier.
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Através da psicografia do disciplinado médium uberabense Carlos A.Baccelli, chegam-nos preciosas e elucidativas informações sobre o desenlace de Francisco Cândido Xavier, sob a ótica do espírito Inácio Ferreira.
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Quando, porém, estávamos de saída para um dos pavilhões do hospital, agora sob a minha responsabilidade no Mundo Espiritual, nosso irmão Lilito Chaves veio ao nosso encontro e anunciou o que, desde algum tempo, aguardávamos com expectativa: a desencarnação do médium Francisco Cândido Xavier, o nosso estimado Chico. O acontecimento nos impunha rápidas mudanças de planos e, solicitando a Manoel Roberto que cuidasse do interno que me reclamava a presença, improvisamos uma excursão à Crosta para saudar aquele que, após cumprir com êxito a sua missão, retomava a Pátria de origem.

Assim, sem maiores delongas, Odilon, Paulino e eu, juntando-nos a uma plêiade de companheiros uberabenses desencarnados, entre os quais relaciono o próprio Lilito, Antusa, Joaquim Cassiano, Rufina, Adelino de Carvalho, e tantos outros, rumamos para Uberaba no começo da noite daquele domingo, dia 30 de junho. A caminho, impressionava-nos o número de grupos espirituais, procedentes de localidades diversas, do Brasil e do Exterior, que se movimentavam com a mesma finalidade. Todos estávamos profundamente emocionados e, mais comovidos ficamos quando, estacionando nas vizinhanças do "Grupo Espírita da Prece", onde estava sendo realizado o velório, com o corpo exposto à visitação pública, observamos uma faixa de luz resplandecente, que, pairando sobre a humilde casa de trabalho do médium, a ligava às Esferas Superiores, às quais não tínhamos acesso.

Conversando conosco, Odilon observou:

- Embora, evidentemente, já desligado do corpo, nosso Chico, em espírito, ainda não se ausentou da atmosfera terrestre; os Benfeitores Espirituais que, durante 75 anos, com ele serviram à Causa do Evangelho, estarão, com certeza, à espera de ordens superiores para conduzi-lo a Região Mais Alta... De nossa parte, permaneçamos em oração, buscando reter conosco as lições deste raro momento.

Aproximando-nos quanto possível, notamos a formação de duas filas imensas, constituídas de irmãos encarnados e desencarnados, que reverenciavam o companheiro recém-liberto do jugo opressor da matéria: eram espíritos, no corpo e fora dele, extremamente gratos a tudo que haviam recebido de suas mãos, a vida inteira dedicadas à Caridade, na mais fiel vivência do "amai-vos uns aos outros". Mães e pais que, por ele haviam sido consolados em suas dores; filhos e filhas que puderam reatar o diálogo com os genitores saudosos, escrevendo-lhes comoventes páginas do Outro Lado da Vida; famílias desvalidas com as quais repartira o pão; doentes que confortara agonizantes em seus leitos; religiosos de todas as crenças que, respeitosos, lhe agradeciam o esforço sobre-humano em prol da fé na imortalidade da alma...

Não registramos nas imediações, é bom que se diga, um só espírito que ousasse se aproximar com intenções infelizes. Os pensamentos de gratidão e as preces que lhe eram endereçadas, formavam um halo de luz protetor que tudo iluminava num raio de cinco quilômetros; porém essa luz amarelo-brilhante contrastava com a faixa de luz azulínea que se perdia entre as estrelas no firmamento.

A cena era grandiosa demais para ser descrita e desafiaria a inspiração do mais exímio gênio da pintura que tentasse retratá-la. Uma música suave, cujos acordes eu desconhecia, ecoava entre nós, sem que pudéssemos identificar de onde provinha, como se invisível coral de vozes infantis, volitando no espaço, tivesse sido treinado para aquela hora.

Espíritos mais simples que passavam rente comentavam:

"Este é um dos últimos... Não sabemos quando a Terra será beneficiada novamente por um espírito de tal envergadura"; "Este, de fato, procurava viver o que pregava"; "Quem nos valerá agora?"; "Durante muitos anos, ele matou a fome da minha família ... ; "Lembro-me de que, certa vez, desesperado, com a idéia de suicídio na cabeça, eu o procurei e a minha vida mudou"; "Os seus livros me inspiraram a ser o que fui, livrando-me de uma existência medíocre"; "Quando minha avó morreu, foi ele quem pagou seu enterro, pois, à época, éramos totalmente desprovidos de recursos"; "Fundei minha casa espírita sob a orientação de Chico Xavier, que recebeu para mim uma mensagem de incentivo e de apoio"; "Comigo, foi diferente: eu estava doente, desenganado pela Medicina, ele me receitou um remédio de Homeopatia e fiquei bom"...

Paulino, tão curioso quanto eu e Lilito, perguntou a Odilon:

- O que o senhor acha dessa faixa de luz isolada, como se fosse um caminho?
- Desconfio o que seja, mas ainda não tenho certeza, Paulino - respondeu o Orientador, que, a todo o momento, identificado por um dos integrantes da multidão que aumentava progressivamente do nosso lado de ação, se esmerava em responder as perguntas que lhe eram dirigidas.

Os caravaneiros não cessavam de chegar, todos portando flâmulas e faixas com dizeres luminosos; creio sinceramente que, em nosso Plano, jamais houve uma recepção semelhante a um espírito que tivesse deixado o corpo, após finda a sua tarefa no mundo; com exceção do Cristo e de um ou outro luminar da Espiritualidade, ninguém houvera feito jus ao aparato espiritual que se organizara em torno do desenlace de Chico Xavier.

Com dificuldade, logrando adentrar o recinto do "Grupo Espírita da Prece", reparamos que uma comissão de nobres espíritos, dispostos em semicírculo, todos trajando vestes luminescentes, permanecia, quanto nós mesmos, em expectativa. Odilon sussurrou-me ao ouvido:

- Inácio, estas são as entidades que trabalharam com ele na chamada "Coleção de André Luiz"; são os Mentores das obras que o nosso André reportou para o mundo, no desdobramento do Pentateuco Kardeciano: Clarêncio, Aniceto, Calderaro, Áulus e tantos outros...

- E aqueles que estão imediatamente atrás? - indaguei.
- São alguns representantes da família do médium e amigos fiéis de longa data.
- E onde estão Emmanuel, nosso Dr. Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo? Porventura, ainda não chegaram?...
- Devem estar - respondi - cuidando da organização...

Ao lado do seu corpo inerte, nosso Chico, segundo a visão que tive, me parecia uma criança ressonando, tranqüila, no colo de um anjo transfigurado em mulher, fazendo-me recordar, de imediato, a imagem de "Pietà", a famosa escultura de Michelangelo.

Quem é ela? - perguntei.

Trata-se de D. Cidália, a sua segunda mãe...

E D. Maria João de Deus?...

Ao que estou informado - esclareceu Odilon, encontra-se reencarnada no seio da própria família.
E seu pai, o Sr. João Cândido?

Está em processo de reencarnação, seguindo os passos da primeira esposa.
Adiantando-se, nosso Lilito indagou:
- Odilon, na sua opinião, por que o Chico está parecendo uma criança?
- Ele necessita se refazer, pois o seu desgaste, como não ignoramos, foi muito grande, mormente nos últimos anos da vida física; nosso Chico carece de se desligar completamente...
- Perderá, no entanto, a consciência de si?
- É evidente que não. O seu verdadeiro despertar acontecerá gradativamente, à medida que se recupere da luta sem tréguas que travou... Aliás, a Espiritualidade Superior, nos últimos três anos, vinha trabalhando para que a sua transição ocorresse sem traumas, tanto para a imensa família espírita, que o venera, quanto para ele próprio.

Inúmeras caravanas e representações continuavam chegando, formando extensas filas, que se postavam paralelas às filas organizadas pelos nossos irmãos encarnados, a comparecerem ao velório para render a Chico Xavier merecidas homenagens. Dezenas e dezenas de jovens, coordenados por Augusto César e Jair Presente, dentre outros, formavam grupos especiais que vinham recebê-lo no limiar da Nova Vida, gratos por ter sido ele o seu instrumento de consolo aos familiares na Terra, quando se viram compelidos à desencarnação...

- A tarefa de Chico Xavier - explicou Odilon, emocionado - não tem fronteiras; raras vezes, a Espiritualidade conseguiu tamanho êxito no campo do intercâmbio mediúnico... No entanto a força que o sustentava nas dificuldades vinha de Cima, pois, caso contrário, teria sucumbido às pressões daqueles que, encarnados e desencarnados, se opõem ao Evangelho. Chico, por assim dizer, ocultou-se espiritualmente em um corpo franzino e deu início ao seu trabalho, sem que praticamente ninguém lhe desse crédito; quando as trevas o perceberam, ele já havia atravessado a faixa dos vinte de idade e em franco labor, tendo pronto o "Parnaso de Além-Túmulo", a obra inicial de sua profícua e excelente atividade psicográfica...

- Dr. Odilon - adiantou-se Paulino -, perdoe-me talvez a inoportunidade da pergunta: o senhor crê que Chico Xavier seja a reencarnação de Allan Kardec?

- Não somente creio, Paulino, como tenho elementos para afirmar que ele o é - respondeu o Mentor, corajosamente. - Os que se dedicarem a estudar o assunto, compulsando, principalmente, a correspondência particular de um e de outro perceberão tratar-se do mesmo espírito. É uma questão que, infelizmente, ainda há de suscitar muita polêmica entre os espíritas que mourejam na carne, mas, para determinado segmento espiritual, no qual eu me incluo, isto é ponto pacífico. São notáveis as "coincidências" ou os pontos de contato entre as duas personalidades, inclusive na semelhança física...

- Alegam alguns, porém, que o Codificador era dono de uma personalidade austera, ativa, quando a de nosso Chico Xavier é de característica branda, passiva...

- Os que assim se referem não tiveram, evidentemente, oportunidade de privar com o primeiro nem com o segundo - ambos eram austeros e brandos, quando a brandura ou a austeridade se faziam necessárias. É claro que a tarefa que Chico Xavier desdobrou, no começo do século passado, se deu em condições um tanto diversas da que cumpriu com a identidade de Allan Kardec; o meio não deixa de exercer certa influência sobre a individualidade, constrangendo-a a adaptar-se às novas condições - uma rosa no Brasil será uma rosa, por exemplo, no Japão, no entanto as diferenças climáticas são passíveis de alterar-lhe as características, tanto no que se refere à coloração quanto ao perfume... O espírito é sempre o mesmo, de uma vida para outra, todavia não há, para ele, como livrar-se totalmente da carga genética que o transfigura, mas não desfigura...

Aparteando, o nosso Lilito Chaves considerou:

- Você tem razão, Odilon; às vezes, na condição de espíritas, esperávamos de Chico Xavier atitudes de maior pulso.
O companheiro sorriu e respondeu:
- Lilito, entendo o alcance de sua colocação, mas, convenhamos, se o nosso Chico tivesse sido mais direto em determinadas ocasiões ou adotado uma postura mais enérgica, mormente com aqueles que procuravam com ele uma convivência mais estreita, agora, ao invés de admirá-lo como vencedor, estaríamos a lamentá-lo; o que o fez grande foi justamente a sua capacidade de tolerar, de caminhar a segunda milha a que o Senhor nos conclama, que nós não estamos dispostos a caminhar com os amigos e, muito menos, com os nossos desafetos. Kardec, se era firme na defesa da Doutrina através de seus escritos e pronunciamentos, no trato pessoal era doce e afável, tendo com Mme. Gaby, a esposa, um relacionamento que ia além dos limites do casamento, conforme ainda se concebe em nossa sociedade - mais que marido e mulher, os dois eram qual irmãos e, sendo mais velha do que ele nove anos, ela sentia por Rivail o amor que uma mãe sente pelo filho; antes que Allan Kardec fosse chamado a encetar a obra da Codificação, o casal havia renunciado a qualquer tipo de convivência mais íntima na esfera sexual, para devotar-se aos valores do espírito, e, tanto é assim, que ambos não geraram herdeiros diretos, porquanto a vontade do Senhor lhes reservara mais alta destinação. Os filhos de Allan Kardec são os filhos da Fé Raciocinada, que se multiplicam na Família Humana...

Neste ínterim, aproximando-se de nós a querida Antusa, médium de cura que cumprira de maneira exemplar a sua tarefa, após nos termos carinhosamente abraçado, Odilon solicitou que a respeitável irmã opinasse sobre o assunto que nos ocupava a atenção.

- Sim, Chico Xavier é a reencarnação de Allan Kardec - disse convicta. - Eu sempre o soube, mas, dentro da prova da mudez que me assinalava os dias, nunca pude me expressar com clareza; não polemizo com os confrades valorosos que pensam diferente, no entanto, no meu caso, possuidora, na Terra, da mediunidade de clarividência, várias vezes pude constatar a autenticidade do fato: à minha retina espiritual, Chico se transfigurava e, em seu lugar, surgia a simpática figura do Codificador; também, muitas vezes, em estado de desdobramento, nos instantes em que me era possível deixar o corpo e visitá-lo, eu o encontrava na personalidade marcante de Allan Kardec... A camuflagem espiritual era quase perfeita. É inegável que a obra de um é o complemento da outra: a mesma linha de pensamento, a mesma terminologia, a mesma luz...

- É - atrevi-me a considerar, por minha vez com a invasão da França, quando da Segunda Guerra, e as mudanças sociais a que o país, posteriormente, se submeteu, a árvore simbólica do Cristianismo Restaurado consolidou seu transplante no Brasil; seria natural que o pomicultor a tivesse acompanhado... Digo-lhes que, nos meus tempos de Sanatório, até os obsessores sabiam que Chico era a reencarnação de Allan Kardec; inclusive, um grande amigo nosso, aliás, o único amigo padre que tive na vida, Sebastião Carmelita, sabia ser este mesmo, por revelação mediúnica que o Chico lhe fizera, o Bispo inquisidor que ordenara a incineração dos livros de Allan Kardec, em praça pública, na cidade de Barcelona. Certa feita, visitando-nos no hospital psiquiátrico sob a nossa direção, Chico confrontou-se com o espírito Tomás de Torquemada, episódio que tive oportunidade de narrar, acanhadamente, em meu livro "Sob as Cinzas do Tempo"...

Lembrando-me de outros testemunhos, após pequena pausa, acrescentei:

- A Modesta, que incorporava o espírito Gabriel Delanne e, por vezes, nos ensejava ouvir a palavra de Léon Denis, não escondia a convicção de que o Codificador estava reencarnado e convivendo conosco em Uberaba; Gabriel Delanne, por intermédio de sua faculdade falante, disse-nos com clareza, logo após a mudança de Chico de Pedro Leopoldo para Uberaba, que Allan Kardec se transferira de domicílio e que, por este motivo, eles estavam se transferindo também... É evidente que, quando obtínhamos um comunicado desta natureza, os espíritos nos solicitavam o máximo de sigilo e, por este motivo, não tornávamos pública a revelação; além do mais, não tínhamos provas cabais para oferecer aos Tomés do Espiritismo, os que, negando-se a enxergar com os olhos da razão, querem ver com os olhos físicos o que depois pedem para tocar com as mãos...

[Extraído da obra "Na Próxima Dimensão", de Inácio Ferreira (espírito), psicografia de Carlos A. Baccelli - Editora LEEPP]

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